quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ARTIGO - A VIDA APÓS O DIAGNÓSTICO

Denise Fonseca de Jesus Aragão - mãe do menino autista João Pedro, de oito anos.



A experiência de ser mãe é indescritível e única. Não há nada comparável aos laços que unem a mãe a seu filho. Desta forma, quando descobrimos que este filho possui deficiência , seja ela qual for, este sentimento torna-se ainda mais forte, assim como a força que vem para que possamos nos fazer fortes por eles , para eles e com eles .


Ao questionarmos uma mulher grávida sobre ter preferência do sexo do bebê que espera, invariavelmente a resposta obtida é a mesma: “ Não importa , o importante é que venha com saúde !”


Todos sonham com um filho saudável e perfeito. Planos são feitos. Objetivos são traçados.


E então , quando o diagnóstico chega , jogando por terra todos os seus sonhos e planos, o sentimento de luto é inevitável. Quando o médico lhe dá o diagnóstico, a sensação que se tem é de estar frente a um juiz proferindo uma SENTENÇA DE MORTE, só que em vida.


Receber um diagnóstico de Autismo é saltar no vazio, na escuridão, num precipício cheio de medos e incertezas.


E você sofre, chora e vive o luto. Mas você pode perguntar: “LUTO?” Mas por que luto?


Quando falo luto, não é o luto pela morte de um filho. O luto a que me refiro é pela morte de suas expectativas em relação aos seus sonhos para este filho. O luto é pelo adeus à Faculdade de Medicina ou de Direito, pelos netos que, supostamente, não virão, pelo novo fenômeno do futebol que não acontecerá.


Seu filho está lá, na sua frente, a mesma criança de alguns minutos atrás, antes do diagnóstico. Mas você não é mais a mesma pessoa. Seus sonhos morreram. Mas outros sonhos nascerão em breve. Sonhos talvez menos ousados, porém mais desejados.

Junto com esta “nova” criança, vêm novos anseios, novas expectativas, enfim, um mundo totalmente novo, que vamos aprender a conhecer e a amar. Você AMA aquele filho, mais do que nunca! O seu amor ganha força e dimensões nunca antes imaginadas.

Pois, existe vida, SIM, após o diagnóstico!!!


Criei para nossa família a seguinte filosofia, que carinhosamente chamo de filosofia dos três “As”. O primeiro A seria a aceitação. Pois se eu não aceito o meu filho, como posso querer que a sociedade o aceite? Esta aceitação vem de dentro para fora. O segundo A é assumir: assumir seu filho perante a sociedade, sem meias palavras, assumir que ele tem uma condição diferenciada, não o tornando inferior a ninguém. E o último A seria amar. Amar antes de tudo e, principalmente, acima de tudo. Evitando pensamentos do tipo “se ele pudesse fazer isso ou aquilo...”


É preciso olhar para os indivíduos com Autismo com os olhos do coração. Porque o AMOR é a peça chave deste processo, a mola propulsora, que destrói barreiras e vence limites.


O Autismo é apenas uma parte da personalidade de meu filho. Mas é parte integrante de seu ser, sem dúvida. Eu amo o meu filho do jeito que ele é. Então, eu também amo o Autismo.


Leia mais na edição 239 do JORNAL DA ALERJ.

5 comentários:

  1. Denise, adorei seu texto, sincero e recheado de emoções singulares que os nossos filhos nos trazem.
    Por isso sinta nosso carinho, sempre...
    Liê e Gabi autista

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  2. Olá Denise,amei seu texto......
    Ele nos relata,a mais pura realidade de uma mãe,
    Após o diagnóstico de seu filho!
    Eu sei e sinto isso em minha pele também .
    Ter um diagnóstico desse ñ é fácil,p/ ninguém.
    Mas sou como você amo meu filho ,incondicionalmente...
    E sempre,quando me deparo c/ situações onde pessoas me questionam o que é ser mãe de um Autista,ou mães que acabaram de receber o diagnóstico de seu filho eu digo aquele poema :Bem Vindo à Holanda !
    Patricia mãe do Victor Hugo

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  3. Belo texto, Denise.
    Parabéns pelas suas atitudes, que refletem o quão mãe (no sentido mais valioso da palavra) você é.

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  4. Oi Denise, seu texto consegui espelhar tudo o que nós mães sentimos, muito AMOR e SUCESSO para você e seu pequeno...

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  5. Quanta sabedoria, certamente, adquirida com a experiência de vida e também pela própria dificuldade. Não sei qual o credo que a senhora professa, mas me recordo de uma citação de Santo Agostinho: "Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus escreva nela o que quiser". Muito pertinente ao caso, que folha da vida de seu filho se transforme num enredo de amor, de superação, de felicidade, vivida do modo como a distinção que ele possui lhe possibilita. Deus os abençoe.

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